30 de outubro de 2007

Folha

[Dedicado a todas as folhas que ainda não manchei com as minhas palavras...]


Folha,
Quero destruir essa pureza,
Esse tom fresco e monótono,
Beleza pobre sem leveza,
Sem chama, sem cinza, sem morte...

Quero traçar-te sem fim,
Linhas achadas por momentos...
Quero encontrar risadas,
Choros lentos e soluçantes,
Bravos, Brilhantes, enfim...

Não sei porque paro,
Ou porque começo...
Folha, quero que fujas,
Que te percas na cidade perdida,
Que te leves sem rumo e sem regresso...
Vai:
Sê feliz longe da vida...


[Qual a razão de termos folhas ao nosso alcance se não nos esmeramos ao máximo para as tornarmos atraentes para nós próprios?!
Se todos largássemos as nossas folhas, essas ruas que nos rodeiam seriam muito mais alegres e acolhedoras: forradas de tudo o que mexe com quem nos é querido (incluindo nós próprios...)!]

27 de outubro de 2007

Vozes Noctívagas

Levanto-me de noite, ouço vozes...
Imperceptíveis de tão baixo que são proferidas,
Exequíveis por serem parcas,
E fartas dum choro mudo e descontente,
Surdo fui eu, de repente,
Ao não saber que para mim eram dirigidas...

Abri a porta de mansinho,
Abandonando o ninho que pernoitava...
Os corredores traziam os sons:
Ecos esquecidos pelos tempos,
Bons velhos eventos idolatrados
Pelas telas que o tecto mostrava...

"É a morte", dizia o primeiro...
"É a vida", retorquia o segundo...
Não os vejo mas no caminhar não falho...
Iluminado pela Lua que resplandece no soalho...
Passo a passo, desperto...
Tão perto da fonte de tal amor fecundo...

Subitamente cessa o som e o luar,
Só fico eu e um espelho no escuro...
Somos um só eterno e indivisível,
Onde não vejo nada que me seja terno:
Apenas um castelo de cartas que se desmorona
Sobre a tela que mostra a mulher que procuro...


["Vozes Noctívagas" é um poema que orgulha o seu autor na medida em que surge duma extensa combinação de factores reais e imaginários... O resultado foi de tal modo satisfatório que ele surge neste momento como o D. Sebastião deste blog... As minhas desculpas pela ausência aparente injustificada...]

11 de outubro de 2007

Como nasce um Crepúsculo...

[Há muito tempo atrás não gostava de poesia... Achava que era uma maneira complicada de se dizer coisas que ninguém poderia estar interessado em saber...
Depois vieram os verdadeiros poetas... Os que me fizeram parar e pensar... Vieram ainda outras pessoas que me mostraram a poesia e o conforto que dela podemos obter...
Antigamente deixava para outros a tarefa de descrever o que sentia e o que via...
Descrever escrevendo é uma maneira de não deixar essa preciosidade, que é a minha especificidade, por mãos alheias (mesmo que essas mãos sejam capazes de erigir textos bem mais esbeltos que os meus...)!
O poema que terá, porventura, sido determinante para que eu começasse a perder noites em busca dos versos perfeitos é da autoria de Álvaro de Campos e reflecte aquela que foi a sua Fase Intimista...
Porque os Crepúsculos fazem-se também daquilo que os outros nos dão, deixo-vos com a genialidade nua e crua...]


O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...


[Absolutamente magnífico!]

6 de outubro de 2007

Eu e tu não existimos

[Uma longa e inconstante noite de Verão...]


Eu e tu não existimos...
Porque tu não existias e agora não estás aqui...
Só por isso...
Nada mais existe que o justifique...
E se existe, eu espero nunca reparar!
Porque daria à injustiça
Um parceiro com quem casar...

E assim morre solteira a culpa
Sem deixar o seu vale hediondo...
Não há mudança, não a escondo,
Não há zanga,
Não há sangue nem confronto!
Não há fome nem que te encontre!
Seremos sempre destinados um ao outro
Como o Sol à linha do horizonte...


[Relato maldito da existência infrutífera, da soma que se configurou numa mísera subtracção de alegria e felicidade... Relato maldito da operação que nunca chegou a ser efectuada...
Prova insofismável que os Crepúsculos não se encontram minimamente pensados, calculados, descritos ou estudados...
Os Crepúsculos são o início e o fim, sendo apenas verdadeiramente importantes quando o intervalo entre eles se rege pela primeira pessoa do plural...]

1 de outubro de 2007

1 Ano

Crepúsculo - s. m. claridade frouxa que precede o raiar do dia; idêntica claridade que persiste algum tempo após o sol-posto;

O Crepúsculo faz 1 ano este mês de Outubro!

1 ano de palavras trazidas à luz crepuscular dos nossos dias...
1 ano de sentimentos compilados e recriados...
1 ano de sonhos explicados e nascidos...
1 ano de momentos embelezados pelo que se lhes sucedeu, momentos embelezados pelo seu legado...


Espero que o próximo ano me traga mais e melhor inspiração para manter não só este espaço mas também a quarta dimensão que faz de mim muito mais que o visível...

Obrigado a todos os que me acompanharam e que visitam o Crepúsculo sempre que ele tem algo para mostrar... Espero que apreciem os próximos meses e que continuem e crescer comigo...

Deixem-se levar pelos versos e pelas palavras:
Pelas imagens que têm em mente!
Deixem-se também levar pelos vossos sentimentos,
Pelos vossos sorrisos,
Pelos vossos prantos desalmados!
Deixem-se ser assim - vivos, tranquilos mas intensos:
Lindos como um crepúsculo reticente...


[Agradeço a nova "cara" do Crepúsculo ao meu amigo Ricardo que decerto muita paciência perdeu comigo... Podem visualizar o trabalho dele aqui...]