21 de fevereiro de 2007

Marcas Perenes I



[porque surge a eterna necessidade de mirar a linha do horizonte para perceber se devo ou não agarrar o que está ao alcance dum passo, duma mão, dum olhar ou dum sorriso...
porque surge a necessidade de reviver quedas para recordar a forma como me devo levantar...
porque, apesar de tudo, surge a necessidade de errar... nem que seja para permitir que o coração continue a bater... a bater... a bater... levemente...
até surgir o êxtase sublime da acção; prazer recolhido da queda, do choro e do olhar...]


Parco, perco
Uma profundidade infinita...
Fraco, encerro
Essa beleza descrita...
Num barco, eu peco
E não escapo ao naufrágio...
Em branco, um servo
Num longo apanágio...


Vivo, vivia
Acordei noutra lua...
Receptivo seria
Num sorriso que inclua...
O crivo, a pia
O sorriso sincero...
Crime, utopia
Nem sei o que quero...


Misto, incolor
O renascer duma acção...
Visto, sem dor
O bater dum coração...
Insisto, valor
O caminho para a ferida...
Um quisto, amor
Entro sem a saída...


[porque não acaba aqui...
talvez porque nunca acabará...]

11 de fevereiro de 2007

uma lua ancestral

[memorias... recordações de um ser algures presente... eu...
um regresso ao passado... reminiscência perdida ou reencontrada...
a renúncia perene ao subjectivo...]




"ó lua que estás tão alta
redonda como um tamanco
anda cá abaixo
que eu dou-te um pontapé..."



[saudade minha...
à memória vindoura de seres inexistentes...]

9 de fevereiro de 2007

// fim //

A campanha eleitoral ao referendo do aborto 2007 está hoje mesmo na sua recta final...

E a população portuguesa pode viver este domingo um momento histórico: se o "sim" ganhar, além de todas as vantagens que os seus apoiantes manifestam como certas e inequívocas se poderem enfim concretizar, assistiremos ao último referendo feito sobre a matéria... Permitam-me um pouco de futurologia para poder prever o seguinte: uma vitória do "não" só trará, pelos vistos, uma maior divisão da sociedade (ao contrário da do "sim")... E caso improvável acontecimento se verifique, então será apenas uma questão de tempo para o "sim" ganhar... Meses, anos... Estou certo que outros referendos se seguirão e que poderão um dia cumprir este nobre desígnio...

(perdoem-me esta minha mágoa perante a nossa democracia...)

No próximo domingo, votar "sim" significa sobrepor o direito da mulher em colocar termo à vida do seu futuro filho ao direito do filho à vida... É legítimo e essa legitimidade poderá provir principalmente das vantagens (quase que prometidas) em termos de saúde pública e de saída de dinheiros dos circuitos ilegais de interrupção voluntária da gravidez...

Votar "não" significa proteger a vida intra-uterina até às dez semanas... Significa acreditar que, com métodos contraceptivos com taxas de eficácia acima dos 90% e que alem disso podem ser usados de forma conjugada, uma gravidez indesejada é muito pouco provável e que tais situações acabam por resultar de azares recônditos ou de irresponsabilidades...

As campanhas das respectivas "facções" centraram-se principalmente em encontrar adectivos que qualificassem de forma dura e constrangedora os apoiantes dos movimentos opostos... Eu não concordo com essa táctica... Respeito opiniões contrárias à minha e penso que o deixei bem claro ao longo das minhas intervenções nas últimas semanas...

Quero agradecer a todas as pessoas que gentilmente deram a sua opinião em relação ao tema abordado e também àquelas que pura e simplesmente se deram ao trabalho de visitar esta página e lerem algumas das linhas... O meu mais sincero agradecimento...

Espero que este mundo em que vivemos e que, em muitas situações, nos deixa reticentes, perdidos, confusos ou muito simplesmente apaixonados nos traga mais temas de discussão...

Finda aqui a época especial de debate do aborto... VOTEM!!


[mas, afinal, "interrupção voluntária da gravidez" é um eufemismo ou "aborto" é que é uma hipérbole?!]

2 de fevereiro de 2007

// mas o que é isto afinal?! //

[na sequência de um comentário que, obviamente, veio a tempo e que só não obteve réplica mais célere devido a assuntos profissionais relacionados com o meu ser...]


Caro Transferência (?),

Foi claramente com grande prazer que recebi o teu comentário... Manifestaste-te de forma clara e aberta numa rotura total com o que afirmei... Como tal, mereces a minha atenção e a resposta que aqui coloco em nome do debate...

Talvez não tenha sido eu a utilizar o raciocinio "minuciosamente analitico"... e talvez nem tenha sido eu a utilizar os exemplos inapropriados... Ou talvez até nem tenha sido eu a "inventar" esses exemplos...

A demografia é uma ciência que estuda estatisticamente as populações humanas não só no que diz respeito às suas características numéricas, mas também à FENOMENOLOGIA que condiciona as suas características. Insurgiste-te contra factos... e é um facto que o aborto é usado como política anti-natalista em muitos países... E também é um facto que nós não nos enquadramos no tipo de países que o utilizam (como vês, ser desenvolvido não deve ser só executar cegamente tudo o que os demais países fazem). Se queremos discutir o aborto, então devemos fazê-lo de forma ampla pesando todas as suas vertentes e não só aquelas que o "sim" pode usar em prol da vitória...

No caso dos Julgamentos de Nuremberga (que penitenciaram situações terríveis e envergonhas para a própria Humanidade), mais uma vez apenas referia um facto... E questionei sobre qual a mudança nos dias de hoje... Receio não obter a resposta no teu comentário uma vez que não me parece que vejas o aborto em si mesmo como um acto também ele pérfido... E talvez até queiras ignorar os avanços científicos que tão vis actividades permitiram - eu não penso que o preço pago por tal em Auschwitz tivesse sido justo tal como não penso que o preço pago hoje em Badajoz, amanhã no hospital de S. João em nome da "saúde pública" ou da ausência de "humilhação" seja também ele justo...

Quanto ao estrangulamento financeiro que relatei, mais uma vez criticaste factos... É verdade que as urgências estão a fechar, é verdade que as maternidades estão a fechar, é verdade que as taxas moderadores estão a aumentar e, infelizmente, também é verdade que as clínicas de aborto poderão vir a aumentar... Incoerência?! Hipocrisia?! Falta de racionalidade?! De quem?! Minha?! Não... Eu não prefiro mulheres a abortarem na clandestinidade... Eu prefiro mulheres a não abortar e essa é a diferença... A diferença entre a resolução do problema e a submissão... A diferença em poupar tostões que podem ser utilizados para melhorar o atendimento a milhares e doentes ou poupar tostões realizando um aborto, preferindo-o ao dispendioso sorriso de um filho... Aprecio a forma como me questionas no universo da Medicina e respondo-te dizendo que sou o mesmo aprendiz de médico que tem a mesma opinião de centenas de profissionais de saude que defendem o não, o mesmo aprendiz de médico que um dia fará o Juramento de Hipócrates e o mesmo aprendiz de médico que pode um dia vir a optar por uma objecção de consciência recusando-se a efectuar um aborto mesmo que legal, agindo de acordo com os fundamentos éticos estudados...

Este é o país em que se demora 7 horas para se ser atendido numa urgência hospitalar estando nas regiões mais descentralizadas... E este não poderá ser o país que adie um aborto para além das 10 semanas por incompatibilidades logísticas... Saberás isso decerto...

Por último, questionas a fé... Podes não acreditar, mas Deus não é uma moda que se usa ao peito, num pulso ou numa orelha... Deus está nos nossos corações e na nossa mente... E quem Acredita recorre a Ele sempre que for necessário... Questionar a fé não foi uma atitude inteligente da tua parte e termino dizendo-te para deixares esse para quem acredita nele...

O problema, "Transferência", é que despenalização significa liberalização... E podes até vir com o teu palavreado cara e com citações bibliográficas... O que bate certo na prática muitas vezes a teoria não explica... Despenalizar o aborto é manter um crime sem pena, é permiti-lo, é dar uma hipótese de escolha quando um método de contracepção com eficácia superior a 90% falha e é retirar valores e responsabilidades aos nossos jovens...

Saudações quadrangulares...

[espero sinceramente que possas ver que o teu comentário não se perdeu...]