19 de dezembro de 2006

Quarto minguante (a espera)

[como um ano passa rápido... como há feridas que saram e outras que ficam por sarar... como há sempre algo doce para recordar... como não sou pessoa de esquecer para resolver...]

Escrevo para mim porque só eu me vou ouvir
Porque só eu sei o quanto é triste sentir
Que o mundo foge e não encontramos as premissas
E que os desejos não passam d verdades fictícias
Volto atrás no tempo, mentalmente, fui feliz
Porque lutei para encontrar aquilo que quis
E o que fiz, fi-lo por amor, fi-lo por ti
Fi-lo porque eras e és toda a minha vida em si
Ganhei e não perdi porque aprendi ao errar
E sei que houve em nós mais do que uma lágrima ao luar
Por vezes numa distancia impossível de quebrar
Com uma geografia em vias de vir a cessar
Havia a tirania de um olhar preso por gosto
De um pensamento livre mas sempre no mesmo posto
Sempre no mesmo rosto, na mesmo perfeição
Dormia no teu sonho, sonhava na tua mão
Tocava o teu cabelo solto parado no tempo
Sentia a tua frescura, fazia dela o meu templo
O meu refúgio, o guia de todo o meu ser
Numa versão hardcore: o meu antro d prazer
Mas para mim importa o inicio... não o fim
Importa a essência, importa o tom carmim
Tonalidades que curaram o meu daltonismo
Que me tiraram do meu efémero messianismo
Nem um sismo impedia a minha existência errante
E sem me aperceber surgiu o quarto minguante…


Existe um universo acessível à paixão
E ainda resiste aceso no meu coração
Crepita e dita, resiste ao que a razão refuta
Diz-me que a espera é também uma forma de luta
Eu acredito, e volto a realidade
E penso que tudo não passa d credulidade
E aguento, piso, choro, berro interiormente,
Expludo, vergo-me mas ninguém vê o peso adjacente
Ele não mente, nem eu minto ao rimar
O acaso das palavras permite-me desabafar
Falar com um outro eu que sente e compreende
Escreve, fala, diz-me que eu sou o único que entende
Vivo na ilha nas alturas de maior pressão
Roubei ao céu o azul escuro do meu coração
Que um dia foi vermelho e noutro voltará a ser
Desde que a esperança seja mesmo a última a morrer
No meu leito vejo-me sorrindo a preceito
Deito um olhar próprio de um momento desfeito
Aceito o resultado que comove mas não demove
Foi bem mais fácil o sangue frio de dia dezanove
Recordo a semana e fico novamente preso
Edifico uma fuga mas esqueço o meu peso
A altura que permite ver o mundo d cima
A largura da fase dura e do microclima...
Da tempestade tropical na minha lembrança
Do rombo invernoso em toda a minha confiança
Da esperança numa vida nossa, e não minha ou tua
De ver esconder por detrás das nuvens, a nossa lua…
Colo e descolo; sou eu que decido esta ordem
Invento a mais sublime das mensagens que comovem
Uma lágrima diz mais do que todos os versos
Não sei se choro ou se estas marcas são de tempos adversos
Dispersos no breve instante a que chamamos vida
Com remorsos de serem fruto da mascara fugidia
Numa saída esquecida, sem olhar para trás
Deixando ir aquilo que não queria que fosse fugaz
Que dure toda a eternidade este meu Olimpo!
Que seja possível poder um dia voltar ao garimpo
Porque não chega o ouro e o diamante para matar
A sede que tenho da riqueza do teu olhar
Sextos sentidos envolvem toda a minha destreza
Que preza a saúde inversa da minha defesa
Hiberno e sinto o frio a tentar apagar a chama
Acordo apenas com forca para a manter na cama
Longe de ataques, protegida d qualquer doença
Esperando a altura de nem ser preciso recompensa
Olho para os lados e procuro todas as condições
Vejo se há verbos para acolher as sensações
Recordo sugestões, pormenores assimilados
Arranjo forca nos exemplos menos imaculados
Recolho fados, canções dos verdadeiros poetas
Asseguro que cumpro todas as palavras secretas
E fecho os olhos, durmo, acordo a pensar em ti
Um dia a lua brilhará como te prometi!


[um porquê seria certamente bem vindo... hoje é um dia diferente dos outros... a pessoa que notará essa diferença olhando para a data e para o passado saberá o porquê deste quarto minguante... só não saberá que ele data de Janeiro de 2006... e que estas palavras têm o enquadramento lógico subjacente... não vamos complicar nada... porque a espera foi anteontem... e nem nós nos lembramos do que se passou ontem...]

3 de dezembro de 2006

Não sei se me apaixono

Não sei se me apaixono
Se é fraqueza, se é sono,
Promessa de rebelião
Não sei porque fujo
Porque estou imundo, sujo,
Fraco sem ter noção...

Será que perco um encontro,
Outrora dou um ombro
E ganho ainda um rasto?!
Quero a certeza madura,
A minha mente segura
Num caminhar pesado, gasto...