28 de novembro de 2006

intermitência_06

E como todos temos um ponto de partida prático na poesia, eis que surge (finalmente) o poema que me trouxe para os caminhos mais clássicos...
Sem ele teria ficado muito mais preso na rede... Com ele ganhei uma força que nunca cheguei a utilizar...



Não há força! Não há desejo!
Revejo os sentimentos de pejo… e de amor…
Ó clamor! Ó valor secreto de outrora!
Fora a hora que o silêncio demora,
Nada mais resta senão teu calor…

Ah, ordeno-me sendo insubordinado!
Reclamo um fado esquecendo a melodia
E no perfume que jazia e adormecia
Muitos, investindo, discutindo, premindo a sensação
Dizendo “não” há verdade passada,
“sim” ao coração sem memória, sem reflexão,
Lutam, berram num mérito sem crédito
E quase que olvido o que em mim brilharia!

Basta! Recuso a inércia a que me prendo!
Ah, se me vejo livre desta rede…
Ah, se me vejo capaz de ser eu…
Ouve e cheira o que chega a tua beira no jardim!
Assim, sente o meu olhar fixado na lua
Porque se há em ti mais do que simples recordação,
Daí virá a força, o desejo de romper o cetim
Os erros, o tom trovadoresco e a tua…
Vontade de chegar ao nosso fim!

Ah, se me vejo capaz de ser eu…

17 de novembro de 2006

Anjo

Este poema está aqui com o consentimento de quem devido...
Mas foi escrito sem o consentimento dessa pessoa...
Talvez por isso o tenha conseguido produzir... Talvez por isso tenha demorado tanto tempo a produzi-lo...


Sinto-me tão saudoso…
Tão ciente de um “eu” esquecido
E de um pesaroso erro,
Malfadado, entorpecido,
Perro, por demais enfermo…
Eras tu, anjo meu…
Eras tu que falavas do termo saudade
E o matavas de seguida com esse sorriso…
Ah… Sim, é isso!
Faz um esforço, recorda!
Era plano, era baixo relevo…
Revelo esse doce enlevo
Neste verso que agora escrevo
E nessa lágrima que transborda!

Sinto-me tão realizado…
Tão fresco no teu abraço,
Embebedado na tua saliva,
Embalado em todo o teu espaço…
Fui escasso, fui um embaraço…
Mas, porque surge o teu toque?!
Porque surge o teu aroma?!
Porque sou a soma desses sons sibilantes,
Estridentes e errantes
Num coração em coma?!

Sinto-me tão vazio…
Tão cheio da tua ausência…
Irritado por este “ser eu”
E esta coisa a que chamam clemência…
Nem um pio…
Retiro esse tecto esguio
E a porta por onde devia sair.
Sai antes tu…
Vai dizer que estou fato!
Vai dizer que sofres… e eu também…
Mas estou vivo… e tu também…
Vive essa vida a que tentas pôr cobro,
Diz viva ao verbo, ao pretérito
E a esse mérito a soldo!
Volta hoje à palma da mão que arranjo…
Porque és um anjo sem asas…
E voas na minha alma…
Sempre…

11 de novembro de 2006

Ilha do Tesouro

Se um novo mundo surgisse,
Disse ela,
E escapasse por uma nesga que eu visse,
Disse ela,
Talvez cada segundo fosse ouro
E eu, vivo, lhe desse a Ilha, não o Tesouro!

Rodeei-me de certezas oblíquas,
Viu ela,
E de saberes e respostas exíguas,
Viu ela,
E mostrei que me sentia no céu e na lua
Sempre que a sua pele era tudo o que eu via…

Acabou,
Disse ela,
E eu que deixei o orgulho em casa!
(por ela)
Sentei-me no encosto duma janela aberta,
Respirei a sua tristeza, singela…
E, por mais bela que fosse a hora,
Ou triste a impossível sequela,
Fui embora,
Desertei,
Esqueci-me que havia um tesouro
Na ilha onde fui Rei…
E a amei…

4 de novembro de 2006

Agora e para sempre

Conheço a "agora e para sempre" dos Da Weasel... É talvez a melhor música deste grupo português e durante muito tempo permaneci "enamorado" por ela...
Porque nada é eterno, surgiu-me uma versão da mesma... É um conjunto de versos que seguem o ritmo proposto pela banda de Pac Man e companhia e que, embora incompletos, reflectem a razão que levou à sua criação... Inspiração e melancolia... Deixemo-nos levar...


Vejo tantos olhos
Tantas mágoas, tantos sonhos,
Alegrias e segredos,
Medos e gestos tristonhos...
Sei que não posso esperar
Essa beleza fugidia
E repetir sem voz
Que isto não é melancolia...
Perco-me sem evidência,
Perco-me sem o teu brilho,
Esqueço o que aprendi
E que da Lua eu sou filho...
Minto!
Será que sinto?!
Aquele sentimento extinto?!
Ou é o resultado de um copo de absinto?!
Não sou quem pensas
Mas quero saber quem és!
O tempo ensinou-me
A respeitar esse revés..
Cara ou coroa?!
O que vais escolher?!
Hoje sou eu que mando
E nunca mais vai amanhecer
Sorri para mim
E diz-me que tudo é possivel...
Reticente mas presente
No teu olhar apetecível...

(o mal é não ter dedicatória específica...)