27 de outubro de 2007

Vozes Noctívagas

Levanto-me de noite, ouço vozes...
Imperceptíveis de tão baixo que são proferidas,
Exequíveis por serem parcas,
E fartas dum choro mudo e descontente,
Surdo fui eu, de repente,
Ao não saber que para mim eram dirigidas...

Abri a porta de mansinho,
Abandonando o ninho que pernoitava...
Os corredores traziam os sons:
Ecos esquecidos pelos tempos,
Bons velhos eventos idolatrados
Pelas telas que o tecto mostrava...

"É a morte", dizia o primeiro...
"É a vida", retorquia o segundo...
Não os vejo mas no caminhar não falho...
Iluminado pela Lua que resplandece no soalho...
Passo a passo, desperto...
Tão perto da fonte de tal amor fecundo...

Subitamente cessa o som e o luar,
Só fico eu e um espelho no escuro...
Somos um só eterno e indivisível,
Onde não vejo nada que me seja terno:
Apenas um castelo de cartas que se desmorona
Sobre a tela que mostra a mulher que procuro...


["Vozes Noctívagas" é um poema que orgulha o seu autor na medida em que surge duma extensa combinação de factores reais e imaginários... O resultado foi de tal modo satisfatório que ele surge neste momento como o D. Sebastião deste blog... As minhas desculpas pela ausência aparente injustificada...]

1 comentário:

Persefone disse...

Sem javardice: adorei o poema
"Ecos esquecidos pelos tempos,
Bons velhos eventos idolatrados
Pelas telas que o tecto mostrava..." Waw, divagações nocturnas, trazem sempre um cariz mágico às coisas.
Gosto especialmente da última estrofe. Mas quem te disse que ele se desmorona?