11 de outubro de 2007

Como nasce um Crepúsculo...

[Há muito tempo atrás não gostava de poesia... Achava que era uma maneira complicada de se dizer coisas que ninguém poderia estar interessado em saber...
Depois vieram os verdadeiros poetas... Os que me fizeram parar e pensar... Vieram ainda outras pessoas que me mostraram a poesia e o conforto que dela podemos obter...
Antigamente deixava para outros a tarefa de descrever o que sentia e o que via...
Descrever escrevendo é uma maneira de não deixar essa preciosidade, que é a minha especificidade, por mãos alheias (mesmo que essas mãos sejam capazes de erigir textos bem mais esbeltos que os meus...)!
O poema que terá, porventura, sido determinante para que eu começasse a perder noites em busca dos versos perfeitos é da autoria de Álvaro de Campos e reflecte aquela que foi a sua Fase Intimista...
Porque os Crepúsculos fazem-se também daquilo que os outros nos dão, deixo-vos com a genialidade nua e crua...]


O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...


[Absolutamente magnífico!]

5 comentários:

Maria Natália Pinto disse...

Grande reflexão :)
Nada, nada mesmo supera Fernando Pessoa, este poema então é lindíssimo.

(Tens um prémio no Wildwood!!)

Anónimo disse...

Este poema é mesmo lindissimo =)

Persefone disse...

Álvaro de Campos é o heterónimo oficial dos repolhos.
O homem apesar de se meter na droga e ser engenheiro (eu acredito que ele existia mesmo e que era uma má companhia para o Fernando Pessoa, mas isso sou eu, não é?)dizia umas coisas muito belas. Especialmente na fase intimista.
Enfim, melhor que o Alberto Caeiro é de certeza. Mas e daí eu tenho um problema por resolver com esse indivíduo arrumador de carros que se auto-proclamou pastor de pensamentos ou lá que coisa ilícita é que era.
Estou a divagar na caixa de comentários, algo que me acontece frequentemente. Será uma nova doença psiquiátrica?
Bolas, gosto mesmo de me ouvir.
Bem estraguei a piada toda do post que por sinal era mesmo muito bom.

expressões singulares disse...

Sem dúvida que Álvaro de Campos possuí obras de literatura absolutamente majestosas, que nos invadem como flechas e nos fazem pensar palavra por palavra na sua magnificiência!!!
como sabes gosto muito de pintura e então tive a ideia de aqui te deixar um "contributo" artistico ( infelizmente não meu) para acompanhar o grande poema que postas-te, no entanto não consigo colar aqui a imagem que queria, mas fica o prometido brevemente postarei essa imegem no meu blog...
bj**

andre' disse...

lindo, genial. também so' de um génio como álvaro de campos :)