30 de setembro de 2007

Quero ver-te...




Quero conhecer-te...




Quero perder-te...




Quero esquecer-te...

19 de setembro de 2007

Inventário

[As noites más não são um mito... Existem mesmo... Aqui fica o resultado duma dessas noites... (Com excepção, talvez, da primeira estrofe... Essa agradou-me...)]


Nunca fiz o inventário das minhas derrotas
Talvez por força e não fraqueza,
Talvez por fé numa postura ilesa,
Certeza morre e parte em noite escura,
Nunca fugi sem o sorriso que em ti perdura...

Nunca faço o inventário das minhas derrotas...
Talvez por medo de vir a ser esquecido,
Talvez por mágoa e incerteza enxuta:
Não vejo luta, nem determinação!
Mudam os rostos mas são os mesmo que aqui estão!
Antigos como a minha apatia,
Antigos como a vontade que não muda,
Não há memória de onde jazia a saudade!
Nunca fujo sem o correcto débito na minha idade...

Nunca farei o inventário das minhas derrotas...
Porque não terei tempo para tal...


[Peço imensa desculpa por este fim... É realmente algo que não me agrada por várias ordens de razões mas que surgiu como um ponto final simples e cru para um poema que se arrastava e que levava consigo qualquer réstia de descanso...
Vejam como posso escrever coisas que nem a mim me agradam e com isso vejam como há coisas em mim que não me agradam... Espero sinceramente que este poema vos agrade...]

16 de setembro de 2007

Uma vida a retalho (III)

"Dará Dezembro duas dúzias de dons de escrita?
Almejarei o que ela suscita ou ressuscita;
Limita o poema sem tema, sem trave mestra
Acaba aqui o discurso que nem chega a palestra..."

Os códigos são extremamente importantes, a não ser que sejam de barras... Aí o caso muda de figura... Não se pode continuar a alimentar um monstro que vai galgando espaço continuamente e que pode, de um dia para o outro, extravasar o seu domínio horizontal e envergar o estatuto transversal...
Os códigos escondem palavras que nunca deveriam ser escondidas pelos seus autores... Apesar de tudo, por alguma razão, foram codificadas: para manter o mistério, para alimentar a dúvida e a procura, para simbolizar tudo o que nunca foi dito mas deveria ter sido...
Os versos não têm códigos (só alguns)... Os versos apenas têm o dom de nos remeter para um Dezembro que se tornou no fim de muito mais do que um ano civil...
Acaba aqui um discurso que nunca foi discurso... Acaba aqui algo que já teve o seu término há muito tempo atrás, término esse que foi revestido de características que lhe imputaram a responsabilidade de um (re)início...
As pessoas não acabam, os sentimentos não acabam, as memórias não acabam... Apenas os discursos acabam (ou mudam de sentido)...
Isto não é infelicidade nem tortura... É apenas uma pequena pena que cumprimos por aquilo que eu "roubei ao céu"...

15 de setembro de 2007

Uma vida a retalho (II)

"Amores impossíveis detectados por sextos sentidos
Não sei dizer o quão indignos são sonhos vendidos..."

Podemos discutir longa e ternamente o alcance dos nossos sextos sentidos... Mas isso não tem interesse nenhum... O que tem interesse é discutir os sextos sentidos deles, dos outros, dos profetas que nos acompanharam e que foram ditando paulatinamente o rumo que tomámos... As opiniões divergentes mas acertadas que trouxeram à baila amores que não existiam...
Podemos até pensar que nada foi construído por quem beneficiou dessa construção, tal foi o empenho desses nossos queridos videntes... Ah, amor emergente que se apodera de mim e de ti, não nosso, mas deles...
Podemos dizer que estes são os nossos sonhos, mas talvez não sejam... Afinal, nunca tivemos a coragem de os vender nem nunca pudemos atirar tudo ao ar, gritando, para pasmo dos adivinhos, que se nos quisessem encontrar estaríamos por aí... Não na deles, não na nossa mas na minha "Ilha"...

14 de setembro de 2007

Uma vida a retalho (I)

"Olho para ti quando só eu te consigo ver
Não esqueci as lágrimas que ouvi escorrer..."

É incrível a forma como podemos não fazer parte dos momentos que alteram a nossa vida... Há dia, há noite... Existem vidas paralelas que se conjugam misteriosamente e que vão atiçando um fogo até então inexistente...
É incrível como vemos coisas que mais ninguém vê... Ainda mais incrível quando essas coisas querem expressamente que sejamos nós a vê-las... E assim surgem histórias, noites mal dormidas passadas ao relento de sentimentos vindouros...
É incrível como não esquecemos as lágrimas... E como pressentimos que mais virão, não de tristeza, mas duma felicidade incomensuravelmente bela e perene...
É incrível a maneira como vivemos e como passamos a estar vivos... Incrivelmente, "vivo"...

11 de setembro de 2007

Olha-me nos olhos

[Um incursão já antiga mas que urge trazer à luz do dia...]


O teu pano de fundo é negro,
Negro do fumo que emanaste,
Negro dos escombros que mostraste,
Negro dessa lágrima remota
Da criança que lota o futuro
Do qual nunca abdicaste...

Olha-me nos olhos!
Prova-me que eles estão errados,
Que não tens topos nem lados,
Que o nosso sonho ainda não é pesadelo.
E eu acredito que há dor e sofrimento
Mas também, males curados...


[Para não nos esquecermos das mentiras...
Para não acreditarmos nas verdades...]

6 de setembro de 2007

Choro

Choro porque não durmo
E porque transformo a raiva dum dia alegre
Na confusão da noite apagada...

Choro porque continuo eu...
Simples, sóbrio, soturno, sorridente,
Preso ao sabor da algema e da corrente...

Choro porque o tempo pára sem avisar
E não sinto jamais a chuva no teu regaço,
Porque foste embora e esqueceste o meu abraço...

Choro porque sou pobre...
Um contínuo erro visual e sensitivo...
Choro porque não estou vivo,
Porque não vejo em mim beleza...
Choro não porque estou triste,
Mas porque desconheço a tristeza...


[O poema por si só...]