24 de novembro de 2007

Mundos

["Só acrescentas algo ao Mundo 1 (...) se trouxeres algo do Mundo 2.
Dito de outro modo, e sendo óbvio para avançar: nada que pertença ao Mundo 1 é novo para o Mundo 1.
Queres trazer-te o novo? Sai de ti.
Queres trazer algo de novo a esta caixa quadrada de 1 metro por 1 metro? Então procura fora dela. (...)"
Gonçalo M. Tavares]


Vamos supor que existem dois mundos. Eu faço parte do segundo e tu fazes parte do primeiro.

Vamos supor que existem dois caminhos que conectem esses mesmos mundos. Eu construi o subterrâneo e tu o superficial.

Vamos supor que um desses mundos é predominantemente alegre e o outro melancólico (e não interessa especificar qual é qual).

Vamos supor que somos ambos capitães-mores, seres supremos dos respectivos mundos, íntegros, belos e apaixonados! Mas que, no entanto, sentimos medo do outro mundo que nunca pôde ver o raiar dos nossos dias.

Vamos ainda supor que não existe o tempo... Ou que se existe, nós não o conhecemos e que, como tal, os nossos mundos também não o conhecem (que tirania!)...

E supondo tudo isto, criando todo um conjunto de jogos abstractos, seguindo cegos, surdos e mudos por estes caminhos que são nossos e de mais ninguém, deixamo-nos invadir por ilusões: pensamos que o tempo não existe (ou que é, no mínimo, eterno), que podemos exercer controlo total sobre as variáveis dependentes da nossa vida, que a alegria que temos nos basta (ou que a melancolia que temos é justa), que os caminhos são meros arranjos ordenados de alcatrão (por vezes terra) erigidos por quem não sabe mais que procurar outro poiso (sem saber que somos nós a construir esses caminhos... Triste)...

Pensamos que existe um só mundo... Quando, na verdade, existem dois mundos sussurrando uma alienação...



[Alienação - acção ou efeito de alienar; transmissão do direito de propriedade sobre um bem; loucura; estado daquele que não é senhor de si, que é tratado como uma coisa e se torna escravo das instituições humanas, de ordem económica, cultural, social ou ideológica.]

14 de novembro de 2007

A Lei da Gravidade

Olhamos para cima e para todos os lados que nos mostrem o conforto que procuramos... Levantamo-nos, lutamos e acabamos por vencer sempre que atrasamos por momentos a inevitável Lei da Gravidade, sempre que não deixamos que a toalha caia ao chão...
E quando caimos, não choramos! A queda é digna, honrada e nobre! Caso não o seja, ou percepcionamos muito mal as nossas supostas vitórias ou caímos sozinhos, sem levar Paixão no coração, na memória ou no calor da nossa mão...

Embrace, Gravity


7 de novembro de 2007

Somos nós

[A inspiração é algo que pode surgir quando menos esperamos mas é também algo que nós podemos assassinar quando não estamos interessados em parar para pensar sobre o que nos atormenta a alma...
Quando paramos, prosseguimos com a certeza que algo será produzido no calor da noite e a nossa auto-satisfação só depende daquilo que produzirmos...
Somos nós que produzimos poesia... Não "eu"... "Nós"... Eu e tu que me invades a alma e que cultivas os meus sonhos e a minha realidade...]


Somos nós os loucos, os profetas malditos!
Somos nós os deuses, as lendas e os mitos!
Somos nós os devassos, os peritos em podridão...
Sujamos caminhos que outros limpam,
Limpamos o vosso imaculado chão...

Somos nós os reis, as pestes, os vícios!
Somos nós a nata dos vossos patrícios!
Somos nós os fracos, os desafortunados...
Vivemos opulentos e sozinhos,
Morremos simples mas apaixonados...


[Ao menos morremos apaixonados! Se é que temos de morrer! Se é que a paixão faz parte da nossa vida!
Ao menos rastejamos e vivemos uma vida paradoxal e inconsistente! Que mal tem?! Chegámos ao fim e levamos a paixão connosco! Somos felizes!]