2 de fevereiro de 2007

// mas o que é isto afinal?! //

[na sequência de um comentário que, obviamente, veio a tempo e que só não obteve réplica mais célere devido a assuntos profissionais relacionados com o meu ser...]


Caro Transferência (?),

Foi claramente com grande prazer que recebi o teu comentário... Manifestaste-te de forma clara e aberta numa rotura total com o que afirmei... Como tal, mereces a minha atenção e a resposta que aqui coloco em nome do debate...

Talvez não tenha sido eu a utilizar o raciocinio "minuciosamente analitico"... e talvez nem tenha sido eu a utilizar os exemplos inapropriados... Ou talvez até nem tenha sido eu a "inventar" esses exemplos...

A demografia é uma ciência que estuda estatisticamente as populações humanas não só no que diz respeito às suas características numéricas, mas também à FENOMENOLOGIA que condiciona as suas características. Insurgiste-te contra factos... e é um facto que o aborto é usado como política anti-natalista em muitos países... E também é um facto que nós não nos enquadramos no tipo de países que o utilizam (como vês, ser desenvolvido não deve ser só executar cegamente tudo o que os demais países fazem). Se queremos discutir o aborto, então devemos fazê-lo de forma ampla pesando todas as suas vertentes e não só aquelas que o "sim" pode usar em prol da vitória...

No caso dos Julgamentos de Nuremberga (que penitenciaram situações terríveis e envergonhas para a própria Humanidade), mais uma vez apenas referia um facto... E questionei sobre qual a mudança nos dias de hoje... Receio não obter a resposta no teu comentário uma vez que não me parece que vejas o aborto em si mesmo como um acto também ele pérfido... E talvez até queiras ignorar os avanços científicos que tão vis actividades permitiram - eu não penso que o preço pago por tal em Auschwitz tivesse sido justo tal como não penso que o preço pago hoje em Badajoz, amanhã no hospital de S. João em nome da "saúde pública" ou da ausência de "humilhação" seja também ele justo...

Quanto ao estrangulamento financeiro que relatei, mais uma vez criticaste factos... É verdade que as urgências estão a fechar, é verdade que as maternidades estão a fechar, é verdade que as taxas moderadores estão a aumentar e, infelizmente, também é verdade que as clínicas de aborto poderão vir a aumentar... Incoerência?! Hipocrisia?! Falta de racionalidade?! De quem?! Minha?! Não... Eu não prefiro mulheres a abortarem na clandestinidade... Eu prefiro mulheres a não abortar e essa é a diferença... A diferença entre a resolução do problema e a submissão... A diferença em poupar tostões que podem ser utilizados para melhorar o atendimento a milhares e doentes ou poupar tostões realizando um aborto, preferindo-o ao dispendioso sorriso de um filho... Aprecio a forma como me questionas no universo da Medicina e respondo-te dizendo que sou o mesmo aprendiz de médico que tem a mesma opinião de centenas de profissionais de saude que defendem o não, o mesmo aprendiz de médico que um dia fará o Juramento de Hipócrates e o mesmo aprendiz de médico que pode um dia vir a optar por uma objecção de consciência recusando-se a efectuar um aborto mesmo que legal, agindo de acordo com os fundamentos éticos estudados...

Este é o país em que se demora 7 horas para se ser atendido numa urgência hospitalar estando nas regiões mais descentralizadas... E este não poderá ser o país que adie um aborto para além das 10 semanas por incompatibilidades logísticas... Saberás isso decerto...

Por último, questionas a fé... Podes não acreditar, mas Deus não é uma moda que se usa ao peito, num pulso ou numa orelha... Deus está nos nossos corações e na nossa mente... E quem Acredita recorre a Ele sempre que for necessário... Questionar a fé não foi uma atitude inteligente da tua parte e termino dizendo-te para deixares esse para quem acredita nele...

O problema, "Transferência", é que despenalização significa liberalização... E podes até vir com o teu palavreado cara e com citações bibliográficas... O que bate certo na prática muitas vezes a teoria não explica... Despenalizar o aborto é manter um crime sem pena, é permiti-lo, é dar uma hipótese de escolha quando um método de contracepção com eficácia superior a 90% falha e é retirar valores e responsabilidades aos nossos jovens...

Saudações quadrangulares...

[espero sinceramente que possas ver que o teu comentário não se perdeu...]

1 comentário:

Anónimo disse...

A questãõ aqui, não é a nossa opinião sobre o aborto, mas sim se a mulher merece ser considerada uma criminosa e pagar por isso a vida inteira ao recorrer a este método.
Eu não critiquei quem acredita em Deus, mas usar expressões como "Não sou Deus para...." é um argumento francamente fraco, que nem argumento de autoridade é considerado, e tu sabes disso.
O facto de te despedires com "saudações quadrangulares" provou a minha opinião acerca de ti, o facto de teres uma visão quadrada e com ela saudar-me.
Respeitosas saudações,

um tal de Transferência.