23 de maio de 2008

10 Anos


Pangea - Nuno Rebelo



Lembram-se da Expo'98?!



Eu tinha 9 anos aquando da realização da última grande Exposição Universal do Séc. XX. Não pude acompanhar todo o processo de criação e maturação da ideia; não pude acompanhar os debates acesos que certamente se seguiram; não pude perceber os prós e os contras desta grande obra; não pude perceber a magnitude do evento; não pude sonhar com a magia do momento nem contribuir para uma obra que, cerca de 500 anos depois, virava Portugal novamente para os Oceanos...

Por isso, hoje é tempo de recordar a Expo'98. Recordar! Não fazer balanços, porque esses fá-los-ão aqueles para tal designados (e não devem faltar poucos...).

Recordar a Expo'98 é recordar o seu logótipo azul ondulante com um pequeno Sol despontando no horizonte...
É recordar a inocência daqueles bébés (hoje meninos de 10/11 anos) nadando pelas águas calmas, como que descobrindo de forma maravilhada os encantos guardados nas suas profundezas...
É recordar todas as enormes infra-estruturas que desafiaram a Engenharia Civil e a Arquitectura mundiais...
É recordar as enormes enchentes, tanto de portugueses como de estrangeiros, que acorreram ao recinto em massa, contribuindo para o incrível número de 11 milhões de visitantes em cerca de 4 meses de exposição...
É recordar a Alameda das Nações com os seus vulcões cuspidores de água que tanto nos refrescaram naquele magnífico Verão de 98, com os seus edifícios pomposos e orgulhosos de si próprios, com as enormes filas de pessoas que, sentadas em bancos de cartão da Vitalis, esperavam horas e horas para entrarem num simples Pavilhão...
É recordar inúmeros espectáculos multimédia que coloriram a noite ribeirinha e deram luz e som ao imaginário de todos nós...
É recordar espectáculos musicais que a minha infância não permitia, de forma doce e sossegada,
apreciar...
É recordar um passaporte e uma vontade inexpugnável de percorrer dezenas e dezenas de pavilhões em busca de um simples carimbo que testemunhasse a minha presença ali, umas vezes entrando e visitando a exposição, outras vezes fugindo sorrateiramente à segurança, entrando pela saída e implorando simpática e incautamente por mais um carimbo...
É recordar o enorme cansaço com que se chegava ao fim de um dia de caminhadas e contra-caminhadas, filas de espera, sol, sede, etc...
É recordar o Gil e as inúmeras fotografias tiradas com ele bem agarradinho a nós..
É recordar a Ponte Vasco da Gama iluminada à noite, reflectindo o aparato provocado pelo sempre surpreendente Acqua Matrix...
É recordar os cheiros, os vídeos, os spots publicitários, as músicas oficiais, as mascotes, os souvenirs, os panfletos, as pessoas, os animais, as águas, a vida em exposição...

Recordar a Expo'98 é trazer à baila tudo isto. Coisas que vivemos manchadas pela ausência de tudo aquilo que a nossa pequenez inata à condição de ser humano não nos deixou ver e percepcionar...

É ver que 500 anos depois soubemos voltar ao mar e prestar-lhe o tributo merecido por tudo aquilo que ele já nos deu! É ver que conseguimos fazer grandes obras, pasmar o mundo, transformar uma das zonas mais degradadas do país no 'gold standard' do desenvolvimento urbanístico nacional.

É lembrar tudo isto e sentir aquele arrepio na espinha que é simultaneamente indicativo de dor e orgulho pelo tempo passado...

Por isso, recordemos...